Primeiro álbum de Geraldo Vandré faz 60 anos junto com a ditadura que perseguiu o artista
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♪ MEMÓRIA – 2024 marca os 60 anos do golpe militar que asfixiou a democracia do Brasil a partir de 31 de março de 1964. Curiosamente, 2024 também marca os 60 anos do primeiro álbum de Geraldo Vandré, um dos artistas mais duramente perseguidos pelo regime ditatorial.
Geraldo Vandré, o disco, foi lançado em 1964 pela gravadora Audio Fidelity, pioneira na fabricação no Brasil de LPs com som em estéreo. Nascido em 12 de setembro de 1935, em João Pessoa (PB), o paraibano Geraldo Pedrosa de Araújo Dias tinha 29 anos na época do lançamento do disco e vivia na cidade do Rio de Janeiro (RJ) desde 1951. Militante, Vandré já tinha se formado em advocacia e se engajado no movimento estudantil através do Centro Popular de Cultura (CPC) da União Nacional dos Estudantes (UNE). Mesmo sem conter um petardo político como Pra não dizer que não falei de flores (1968), a canção de festival popularmente conhecida como Caminhando que se tornaria a glória e o tormento do cantor e compositor, o álbum Geraldo Vandré já refletiu o engajamento do artista através de repertório que incluiu músicas autorais como Canção nordestina (de versos áridos como “Menino de pé no chão / Já não sabe nem chorar”), Depois é só chorar, Fica mal com Deus, Pequeno concerto que virou canção e Você que não vem – algumas já previamente apresentadas pelo cantor em singles de 78 rotações editados entre 1962 e 1963. Reeditado uma única vez em CD, em 2017, pela gravadora Som Livre, o álbum Geraldo Vandré abre com O menino das laranjas (1964), música de Theo de Barros (1943 – 2023), de quem Vandré se tornaria parceiro na criação da modernista moda de viola Disparada (1966), sucesso da era dos festivais. O repertório do disco também inclui o afro-samba Berimbau (Baden Powell e Vinicius de Moraes, 1963) e Samba em prelúdio (Baden Powell e Vinicius de Moraes, 1960), este regravado por Vandré em dueto com a cantora Ana Lúcia. Um dos alvos preferenciais da ditadura, por ter usado a música como arma na luta pela repressão, Geraldo Vandré tem hoje 88 anos. Virou um artista recluso, longe dos holofotes, mas a obra do artista desde sempre falou por ele, como exemplifica o primeiro já sexagenário álbum do músico militante. Capa do álbum 'Geraldo Vandré', lançado em 1964 pela gravadora Audio Fidelity DivulgaçãoFONTE: G1 Globo