‘Resistência’ é um dos filmes mais visualmente bonitos e menos originais dos últimos anos; g1 já viu
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Ficção científica escrita e dirigida por Gareth Edwards, de 'Rogue One', estreia na quinta-feira (28) estrelada por John David Washington. "Resistência", nova ficção científica escrita e dirigida por Gareth Edwards ("Rogue One: Uma História Star Wars"), é um filme belíssimo. Bonito mesmo. Ao menos no aspecto visual, é um dos mais fascinantes dos últimos anos, com um mundo rico dentro de um contexto geral instigante.
Infelizmente, por uma ironia cósmica das mais raras, é também uma das menos originais em tempos recentes. Uma colcha de retalhos, não tão bem costurada, de conceitos explorados à exaustão pelo gênero, de inteligência artificial a naves gigantes e grandes impérios contra pequenas rebeliões, com ecos de filmes de Guerra do Vietnã. No fim, a obra que estreia nos cinemas brasileiros nesta quinta-feira (28) deixa um inevitável gosto melancólico – mais pelo desperdício de uma beleza tão rara (tanto quanto um estúdio investir tanto em uma ideia "original") do que pela pobreza da trama em si. Conhecido por dirigir grande parte das gravações problemáticas do (ótimo) derivado de "Star Wars", Edwards tinha a chance de provar que era responsável pelo seu sucesso, mas acabou por confirmar que o mérito foi mesmo de Tony Gilroy. Assista ao trailer de 'Resistência' Exterminador das Estrelas Now Tem pouca coisa na trama de "Resistência" que você provavelmente já não tenha visto antes. E nem precisa ser um grande fã de ficção científica. Afinal, o roteiro assinado pelo diretor e por Chris Weitz (um dos escritores de "Rogue One") tem ecos de clássicos como a própria saga espacial de George Lucas e "O Exterminador do Futuro". Em um futuro não tão distante, no qual os Estados Unidos declararam guerra a robôs e qualquer tipo de inteligência artificial (IA), um ex-agente americano (John David Washington) é recrutado para encontrar um cientista responsável pela criação da tecnologia. Durante a missão atrás de linhas inimigas, ele precisa lidar com uma criança androide que pode ser a grande arma do adversário. John David Washington em cena de 'Resistência' Divulgação Se o conflito entre um grande império (EUA) e uma rebelião acuada (IA) não fosse "Star Wars" o suficiente, Edwards ainda enfia uma meganave indestrutível para garantir. No caminho, ainda é difícil não pensar em outras referências, como as cidades cyberpunks de "Blade Runner" (1982), os bombardeios e cenários de "Apocalypse Now" (1979) e "Platoon" (1987), e até o desenho dos robôs de "Chappie" (2015). Se sobram referências, falta qualquer traço de originalidade à história – irônico, considerando se tratar da rara produção grande não baseada em qualquer livro ou HQ. Qualquer conhecedor de obras do gênero reconhece os cacoetes da trama, e consegue prever à distância o caminho que ela irá tomar. A maior surpresa fica mesmo na conta de diversos pulos entre diferentes partes do mundo, bem quando o espectador mais ligado começa a suspeitar que não haverá tempo hábil para que a história atinja qualquer conclusão satisfatória. Cena de 'Resistência' Divulgação Não há mesmo. Por mais que protagonista e roteiro corram para amarrar suas pontas soltas, o final não só destoa do ritmo anterior, mas alterna entre o apressado e o picotado. Washington, coitado, até se esforça, mas realmente não dá sorte. Assim como aconteceu com "Tenet" (2020), pega mais uma grande produção de gênero que sucesso inevitável sabotada por um roteiro problemático. De touchdowns a 'Tenet': Filho de Denzel fala sobre passado como atleta e ascensão em Hollywood Beleza melancólica O triste é que por trás de tudo há um filme belíssimo com conceitos intrigantes. Desenhos de personagens, armas, locações e até veículos não reinventam a roda, mas saltam aos olhos em cada quadro. Filmado na Tailândia, Edwards mostra que tem um olho único para retratar as paisagens rurais e montanhosas da região. Mesmo com a melancolia após o final pouco satisfatório, "Resistência" entrega imagens que se agarram por dias na mente do espectador. E se boas ideias como a de uma bomba-robótica parecida com um barril com pernas e braços que corre suicida em direção ao inimigo são maltratadas por sequências meio bobas, o filme emoldura tudo com uma trilha sonora memorável. O que só prova que até um roteiro fraco pode ser superado por cenas lindas ao som de "Everything in its right place", do Radiohead. Madeleine Yuna Voyles em cena de 'Resistência' DivulgaçãoFONTE: G1 Globo