Siemens deixará a Rússia, onde está presente desde os czares

12 maio 2022
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Multinacional alemã decidiu encerrar as operações após os negócios serem afetados com as sanções internacionais; empresa estava há cerca de 170 anos no país. Demissões afetam sobretudo os serviços administrativos e os cargos de direção.

AFP

Após cerca de 170 anos no país, multinacional alemã decide encerrar suas operações na Rússia. A razão é a guerra na Ucrânia, mas sanções internacionais desde a invasão da Crimeia já estavam afetando os negócios.

"Condenamos a guerra na Ucrânia e decidimos encerrar nossas atividades comerciais e industriais na Rússia de forma ordenada", disse o CEO da Siemens, Roland Busch, nesta quinta-feira (12/05), ao apresentar os últimos resultados da empresa.

Pouco depois da invasão da Ucrânia pela Rússia, em 24 de fevereiro, a Siemens já havia interrompido todos os novos negócios e entregas para a Rússia e para Belarus. Agora, a retirada do mercado russo deve prosseguir, disse Busch.

"Esta decisão não foi fácil para nós", afirmou, mencionando o dever de cuidado com os clientes e os funcionários locais. As consequências para os funcionários estavam sendo analisadas e a empresa "continuaria a apoiá-los da melhor maneira possível".

Negócios desde o século 19

A Siemens foi fundada em 1847 em Berlim por Werner Siemens, tenente da artilharia, e Johann Georg Halske, especialista em mecânica de precisão. Em apenas algumas décadas, a empresa cresceu de uma pequena oficina – que, além de telégrafos, fabricava principalmente mecanismos de anéis ferroviários, isoladores de fios e medidores de água – para uma das maiores empresas do setor elétrico do mundo.

A Siemens foi uma das primeiras empresas industriais multinacionais da Europa. A produção no exterior começou em 1863, quando a Siemens fundou uma fábrica de cabos em Woolwich, na Inglaterra.

Dezenove anos mais tarde, a empresa colocou seu pé na Rússia, fundando uma fábrica de cabos em São Petersburgo. Na Rússia czarista, a Siemens participou da construção da ligação telegráfica entre Moscou e a então capital São Petersburgo.

Hoje, a Siemens é um conglomerado internacionalmente ativo. Mais de 300 mil pessoas trabalham para a empresa, que é sediada em Berlim e Munique e tem escritórios em 125 locais na Alemanha e em mais 190 países. Em 2021, a companhia teve um faturamento de 62,3 bilhões de euros (R$ 334 bilhões).

Problemas crescentes com a Rússia

Com exceção do período das duas guerras mundiais, a cooperação com a Rússia czarista e, mais tarde, com a União Soviética, desenvolveu-se em geral sem problemas para a Siemens. Isso mudou quando a atual Rússia, liderada pelo presidente Vladimir Putin, entrou cada vez mais em conflito com instituições internacionais e se tornou alvo de sanções e boicotes.

Em 2020, por exemplo, autoridades alfandegárias do aeroporto de Frankfurt apreenderam uma remessa da Siemens contendo interruptores e módulos de computador.

A encomenda deveria ir para uma subsidiária da estatal nuclear russa Rosatom e, aparentemente, seria então encaminhada à usina nuclear iraniana Bushehr. O envio dos componentes da Siemens, portanto, violaria o embargo da União Europeia ao Irã. A Siemens alegou que não sabia que a remessa seria encaminhada ao Irã.

A direção da empresa nem sempre se comportou de forma clara e também tentou levar adiante os negócios com a Rússia apesar dos embargos impostos. Por exemplo, o então CEO da Siemens, Joe Kaeser, viajou para Moscou apenas duas semanas após a Rússia ter anexado a Península da Crimeia, em março de 2014. Lá, ele se encontrou com o presidente Putin e o chefe da empresa estatal russa de ferrovias, Vladimir Yakunin.

Kaeser elogiou as "relações de confiança" com a Rússia e prometeu não se deixar guiar por "turbulências de curto prazo". O momento da visita e os comentários de Kaeser levantaram suspeitas de que a Siemens queria minimizar o significado da anexação da Crimeia e colocar seu próprio lucro acima do direito internacional e dos interesses europeus.

A Siemens também é suspeita de ter violado sanções ao fornecer turbinas a gás para a Crimeia. Segundo o contrato, elas seriam destinadas para uma usina termoelétrica na Rússia, mas o jornal russo Vedomosti descobriu mais tarde que as turbinas eram destinadas à península anexada por Moscou. A Siemens queria entregá-las nas cidades de Sevastopol e Simferopol, na Crimeia, apesar das sanções.

O governo alemão repreendeu a empresa na época: "É responsabilidade da empresa garantir que as leis de exportação e sanções sejam observadas", disse uma porta-voz do Ministério da Economia. O então porta-voz do governo federal, Steffen Seibert, falou que o caso era "completamente inaceitável".

Siemens pode bancar decisão

A Siemens está neste momento sentindo os efeitos das sanções contra a Rússia, e contratos do setor ferroviário, em particular, enfrentam prejuízos.

Por outro lado, as vendas da Siemens na Rússia têm representado apenas cerca de 1% de suas vendas globais. Enquanto isso, a demanda mundial por produtos da Siemens segue alto. No último balanço da empresa, ela reportou que as encomendas cresceram em um terço e as vendas, em 16%.

O CEO da Siemens, porém, tem mencionado um ambiente de negócios difícil. Ele afirma que, além da guerra na Ucrânia, a empresa alemã também vem sentindo as consequências da pandemia, e citou aumento dos riscos relacionados ao fornecimento de componentes eletrônicos, matérias-primas e de logística.



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