Zélia Duncan e Ana Costa fazem história em disco que enaltece a ação feminina na Independência do Brasil

07 set 2023
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Canção dedicada à mineira Hipólita Jacinta sobressai em repertório autoral que joga luz sobre a importância combativa de sete mulheres apagadas nas narrativas dos livros oficiais. Capa do disco 'Sete mulheres pela Independência do Brasil', de Zélia Duncan com Ana Costa

Divulgação

Resenha de álbum

Título: Sete mulheres pela Independência do Brasil

Artistas: Zélia Duncan e Ana Costa

Edição: Duncan Discos

Cotação: ★ ★ ★ ★

♪ Há literal e figurativamente um caráter histórico no disco lançado hoje, 7 de setembro de 2023, por Zélia Duncan com Ana Costa. Com sete músicas inéditas que o situam no limiar entre álbum e EP, o disco Sete mulheres pela Independência do Brasil faz raiar, com 200 anos de atraso, a liberdade e o enaltecimento da ação feminina na luta pela autonomia nacional em movimentos ocorridos entre o fim do século XVIII e o início do século XIX.

O grande trunfo do disco – cujo repertório foi composto por Ana com letras de Zélia – é a bela canção que o abre, Dona Hipólita Jacinta, dedicada a mineira Hipólita Jacinta Teixeira de Melo (1748 – 1828). Com lirismo sublinhado pelas cordas do quarteto arregimentado para a faixa, a canção exalta a “insólita coragem” de Hipólita na letra em que Zélia – autora dos versos e solista da canção – faz conexão da luta pela liberdade nos tempos imperiais com as ações atuais que reivindicam total independência e igualdade feminina na ainda patriarcal sociedade do século XXI.

Gravado com produção musical orquestrada por Ana Costa com Bia Paes Leme, parceira das artistas em Quitéria – marcha em louvor à combatente baiana Maria Quitéria de Jesus (1792 – 1853) – e no jongo que reverencia a baiana Maria Felipa de Oliveira (???? – 1823) em gravação embasada com sólida trama de tambores, o disco tira da invisibilidade mulheres apagadas da história oficial do Brasil.

Nesse sentido, Ana Costa e Zélia Duncan fazem história quando permitem que essas sete mulheres “nasçam de novo nos braços da História e do povo”, para citar versos do fluente samba Ana Lins, composta para celebrar a valente alagoana Ana Maria José de Lins (1764 – 1839).

O disco se mantém coeso mesmo quando eventualmente a força da letra se sobrepõe ao poder da melodia, como no caso de Urânia, balada ouvida em solo de Ana Costa e feita em tributo a Urânia Vanério de Argollo Ferrão (1811 – 1849), mulher de origem baiana, mais conhecida como Baianinha pelos poucos que souberam da importância dela nos levantes.

Pautado pela diversidade rítmica, o repertório também inclui um xote batizado com o nome da pernambucana Bárbara de Alencar (1760 – 1832). Completa a safra do disco uma canção que joga luz sobre a ação combativa de Maria Leopoldina (1797 – 1826), austríaca que lutou pela Independência do Brasil.

Rainhas sem coroas, essas sete mulheres guerreiras são entronizadas por Zélia Duncan e Ana Costa nas músicas deste disco idealizado, composto, gravado e tocado por mulheres.

Engajado na causa feminista, o disco tem méritos musicais e poéticos, merecendo ser ouvido e estudado nas escolas para que as distorções da História oficial do Brasil sejam apagadas.


FONTE: G1 Globo


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